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O poder da castanha

A semente da frondosa castanheira amazônica, de nome científico Bertholletia excelsa, é mundialmente apreciada por suas propriedades gastronômicas e nutricionais. A castanha-do-Brasil, também conhecida como castanha-do-Pará, é a maior fonte alimentar conhecida do mineral selênio, o que torna esta oleaginosa um dos alimentos mais citados atualmente pela mídia, como ocorreu na edição de Junho de 2012 da revista Saúde, onde foi publicado o texto “Basta 01 castanha por dia para proteger seu cérebro”.

O selênio exerce importante função no controle dos radicais livres, compostos extremamente reativos, capazes de danificar diversas estruturas celulares quando em excesso. Este nutriente é essencial ao funcionamento da enzima glutationa peroxidase, envolvida na inativação destes radicais. Além disso, o selênio é importante para a transformação do hormônio tireoideano T4 em sua forma ativa (T3) e liga-se a metais pesados e xenobióticos, reduzindo suas toxicidades.

Há um grande número de pesquisas científicas que demonstram associação positiva entre o consumo adequado de selênio e a prevenção de doenças, como diversos tipos de câncer, aterosclerose, doença de Alzheimer e infertilidade masculina. Este mineral também é importante para o bom funcionamento do sistema imunológico, aumentando a resistência do indivíduo a infecções.

A ingestão de selênio diária recomendada para um indivíduo adulto é de 55mcg; por outro lado, quantidades superiores a 800 mcg/dia são suficientes para desencadear sintomas de intoxicação pelo mineral, como queda e despigmentação de cabelos, unhas quebradiças apresentando manchas brancas e odor semelhante ao de alho exalado pelas vias aéreas. Um grama de castanha-do-Brasil pode conter entre 8 e 126mcg de selênio. Sendo assim, uma castanha de tamanho médio, pesando 4g, pode conter entre 32 e 504mcg deste nutriente, o que normalmente é suficiente para obtenção dos benefícios do consumo deste alimento sem risco de intoxicação. A grande variação entre os níveis de selênio encontrados em diferentes amostras de castanhas é atribuída a diferenças na quantidade biodisponível do mineral no solo.

Outro grave problema associado à alta ingestão de castanhas-do Brasil é que estas são consideradas alimentos de alto risco para peroxidação lipídica e consequente produção de substâncias tóxicas e contaminação por fungos produtores de micotoxinas altamente cancerígenas, o que reforça a ideia de que consumir apenas uma castanha por dia é suficiente. Para reduzir o risco de intoxicação por estas substâncias, deve-se selecionar, no momento da compra, produtos inteiros, com boa aparência, sem fungos visíveis e sem manchas.

O consumo de castanhas-do-Brasil é uma ótima alternativa para prevenção da deficiência de selênio e, por consequência, de diversas doenças crônicas não transmissíveis. Porém, apenas uma unidade da castanha é capaz de suprir as necessidades deste nutriente de um adulto. O consumo exagerado pode expor o indivíduo aos riscos da elevada ingestão calórica, intoxicação por selênio, micotoxinas e compostos de peroxidação lipídica.

 

Referências bibliográficas

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